A coagulopatia – alteração da capacidade de coagulação do sangue – em pacientes traumatizados graves foi, pela primeira vez no Brasil, tema de estudo reunindo dados estatísticos sólidos sobre o seu perfil epidemiológico e imunológico. A pesquisa, desenvolvida em Salvador pelo cirurgião-geral do Hospital do Subúrbio (HS) André Gusmão, para a sua tese de Doutorado em Imunologia na Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA), envolveu cerca de 2.600 pacientes, dos quais 1.074 integraram o núcleo do estudo.
Apresentada no dia 22 de fevereiro na Faculdade de Medicina da Ufba, a tese foi defendida com maestria pelo médico André Gusmão, que ressaltou a importância do tema e seu ineditismo ao abarcar pacientes vítimas de trauma grave no país e abordar um tipo específico de citocina (IL-6) como potencial marcador imunológico da coagulopatia. O trabalho, intitulado “Perfil Epidemiológico e Imunológico Inicial na Coagulopatia Associada ao Trauma em Pacientes Graves”, teve orientação de Roberto Meyer, professor titular do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UFBA, e co-orientação de Andréa Mendonça, professora adjunta do ICS, ambos do Programa de Pós-Graduação em Imunologia (PPGIm/UFBA).
O número significativo de pacientes traumatizados com problema de coagulação, causando aumento dos sangramentos e repercutindo nos dados de mortalidade, mostra, segundo Dr. André Gusmão, a relevância do tema. “A coagulopatia acomete de 25 a 30% dos pacientes traumatizados graves, que apresentam maior tempo de hospitalização, taxa de internação em UTI, necessidade de cirurgia e de transfusões, e mortalidade”. No Hospital do Subúrbio, a pesquisa constatou que 28% dos pacientes traumatizados são admitidos com coagulopatia.
A análise do perfil epidemiológico e imunológico contribui, assim, para o diagnóstico precoce e a redução na quantidade e necessidade de tratamentos. Para a parte imunológica da pesquisa, foi realizado um recorte no universo de estudo, abrangendo 49 pacientes e seus níveis de citocina – proteína que induz a produção de anticorpos. Por meio da dosagem dos níveis de citocina, é possível verificar a maior ou menor probabilidade do paciente ter coagulopatia.
Ao estudar os níveis de citocina no sangue de pacientes traumatizados com coagulopatia precoce, Dr. André Gusmão observou que apenas a citocina do tipo IL-6 apresentou níveis mais elevados. “Isso sugere que esta citocina é um marcador imunológico deste distúrbio em pacientes traumatizados”, explica.
O estudo, cuja coleta de dados estendeu-se de julho de 2015 a novembro de 2016, abrangeu pacientes internados exclusivamente no Hospital do Subúrbio. “A contribuição do HS para o fomento e o crescimento técnico e científico do meio médico é motivo de orgulho para nós”, destaca o diretor técnico do HS, Jorge Motta, ao felicitar o cirurgião-geral André Gusmão pela originalidade e importância do seu trabalho.