O acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é a primeira causa de internamento no Hospital do Subúrbio (HS) quando excluídas as internações por causas externas, como lesões, acidentes e outros resultantes de violência. De julho de 2014 a junho de 2015, foram registrados no hospital 1.058 internamentos decorrentes de doenças cerebrovasculares. Diante dos números elevados e da complexidade que envolve a assistência a esses pacientes, o HS implantou, em julho de 2015, a Linha de Cuidado do Paciente com AVC. A sua formulação e instauração foi fruto do trabalho conjunto do gerente de práticas assistenciais do HS, Humberto Herrera, e do neurologista Bruno Pedreira.
A neurologista do HS Flávia Moura lembra que o AVC é uma das maiores causas de morte e sequela neurológica no mundo atual. “Recentes estatísticas brasileiras indicam que o AVC é a causa mais frequente de óbito na população de adultos. Estes dados estão de acordo com as nossas estatísticas no Hospital do Subúrbio”, esclarece.
Identificar com eficiência os casos sugestivos de AVC nos pacientes que chegam ao hospital e agir com rapidez para evitar complicações e aumentar as chances de recuperação são os objetivos da Linha de Cuidado do AVC. Para que eles sejam alcançados, foi introduzida na rotina do hospital uma série de práticas baseadas em padrões pré-definidos de assistência e que são implementadas por cada setor que recebe o paciente. A atuação integrada no cuidado ao paciente é parte fundamental desse processo, no qual estão envolvidos enfermeiros, médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e profissionais de Bioimagem, Laboratório, Farmácia Clínica e Serviço Social.
Tanto o paciente que chega ao hospital de forma espontânea (porta aberta) quanto por meio de ambulância pode entrar na Linha de Cuidado do AVC. No primeiro caso, ele ingressará no chamado “Eixo Azul” da linha de cuidado após ser atendido na sala de acolhimento, onde é feita a classificação de risco, e a equipe de enfermagem reconhecer a possibilidade da ocorrência de AVC a partir da identificação dos sintomas e consequente preenchimento da escala de R.O.S.I.E.R (ferramenta para reconhecimento do AVC). No segundo caso, ao ser levado por uma ambulância, o paciente ingressará no chamado “Eixo Vermelho” da linha de cuidado após ser atendido pelo médico da sala de reanimação e ter a suspeita de AVC confirmada.
Verificada a probabilidade de um quadro de AVC, são realizados exames de imagem e laboratoriais, sob acompanhamento do neurologista. Também é considerada a possibilidade de trombólise, tratamento feito à base de trombolítico – medicamento que desmancha o coágulo que entope o vaso cerebral, normalizando o fluxo sanguíneo e diminuindo a chance de sequelas nos pacientes com AVC isquêmico.
Tempo é cérebro – A agilidade na conduta dos profissionais integrantes da Linha de Cuidado do AVC é essencial para o sucesso da assistência ao paciente. O médico do HS Humberto Herrera ressalta que num acidente vascular cerebral morrem 30 mil neurônios a cada segundo. Por isso, afirma, “um treinamento intensivo foi realizado com a equipe de enfermagem, inclusive com discussão de casos reais”, para que os enfermeiros reconheçam, com maior habilidade, se a queixa de um paciente é indicativo de acidente vascular cerebral ou não.
A equipe de clínicos da Emergência e de intensivistas da Unidade de Estabilização (Semi-Intensiva), também passou por treinamento com foco no reconhecimento do AVC isquêmico passível de tratamento trombolítico e nos cuidados pós-trombólise, assim como no manejo do paciente com AVC na Emergência.
A Linha de Cuidado do AVC no HS foi construída com base em protocolos e acordos envolvendo distintos setores do hospital. A Emergência e a Bioimagem, por exemplo, acordaram em até 45 minutos o tempo para realização e laudo da tomografia computadorizada de crânio. Nos casos de prescrição de trombolítico, o tratamento deve começar em até 1 hora da chegada do paciente, sendo que o tempo máximo para aplicação do medicamento, a partir do início dos sintomas, é de 4 horas e 30 minutos. Tanto a Fonoaudiologia quanto a Fisioterapia, Nutrição e Farmácia devem fazer a admissão ativa do paciente em até 48 horas do internamento.
Monitoramento – Além dos acordos, foram instituídos Protocolos de Cuidados ao paciente com AVC nas áreas de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Enfermagem, Serviço Social e Farmácia Clínica, bem como o Protocolo de Doença Cerebrovascular Aguda e o Protocolo de Profilaxia de Tromboembolismo Venoso. Cada categoria profissional possui uma ficha específica, onde são registrados os dados referentes ao estado do paciente e ao andamento do plano de cuidados. Por meio do sistema informatizado do hospital, todas as fichas de acompanhamento podem ser rastreadas, tornando possível o monitoramento e a efetividade da Linha de Cuidado. “Estamos apenas no começo de uma longa jornada, seguros dos desafios e focados no objetivo final que é prestar a melhor assistência ao paciente”, afirma a neurologista Flávia Moura.
De julho de 2015 a junho de 2016, 753 pacientes ingressaram na Linha de Cuidado do AVC instituída no HS. Segundo Humberto Herrera, o número de trombólises realizadas no período de um ano desde a instalação da linha cresceu de duas por mês para cinco, o que revela o aumento no reconhecimento dos casos de AVC. Para Flávia Moura, a implantação da linha de cuidado do AVC foi um grande marco para a instituição. “Dados da literatura comprovam que pacientes que recebem um atendimento organizado em linhas específicas de cuidado são mais propensos a sobreviver após AVC, voltar para casa e se tornar independentes no autocuidado”, explica.
Em sua Linha de Cuidado, o Hospital do Subúrbio segue as normas do Ministério da Saúde, a exemplo do Manual de rotinas para atenção ao AVC, e a Escala de AVC do National Institutes of Health – agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.