Melhorar continuamente a qualidade de serviços e promover padrões elevados de atendimento, criando um ambiente de cuidados clínicos de excelência. Estas são premissas do Hospital do Subúrbio, que, desde março deste ano, vem debatendo o conceito de governança clínica, no sentido de aprimorar o modelo de gestão médico-assistencial praticado.
A consolidação da governança clínica em um ambiente complexo como o hospital é uma das linhas de discussão de especialistas como Rogério Palmeira, coordenador-hospitalista de clínica médica do HS, que debateu o tema no último dia 21, durante encontro quinzenal do TAG, o Time de Apoio à Gestão, do qual participam todas as lideranças médicas da unidade.
O conceito de governança clínica surgiu no Reino Unido, onde o sistema de saúde é universalizado, e atualmente vem sendo incorporado nas instituições de saúde de todo o mundo. “Este modelo de ‘engenharia assistencial’ ganhou diferentes designações e adaptações para contribuir com a excelência do cuidado”, explica o médico.
Durante a reunião, Palmeira apresentou os indicadores das unidades clínicas do HS, com discussão baseada no conceito de governança clínica. Foram analisadas também a linha de cuidado do paciente na unidade e as interações entre as diversas especialidades médicas, no intuito de se identificar oportunidades de melhoria e de se consolidar a gestão integrada da clínica. “O envolvimento das múltiplas categorias médicas e da equipe multidisciplinar é fundamental para o sucesso do modelo. É importante que as mais distintas especialidades adotem o sistema de gestão integrada”, observa.
Na implementação da governança clínica no HS, como sinaliza o especialista, é preciso levar em consideração os indicadores da unidade. “Eles são o farol e o GPS que norteiam as nossas ações. São ferramentas capazes, por exemplo, de mensurar a efetividade clínica. Queremos saber não apenas se o antibiótico tratou a doença do paciente, mas se melhorou de fato a sua qualidade de vida. Queremos alcançar os padrões de excelência em todas as dimensões do cuidado do paciente, englobando os resultados assistênciais, a eficiência e a satisfação”.
De acordo com Palmeira, para o alcance de resultados, a governança clínica deve priorizar um conjunto de elementos, como efetividade da intervenção clínica, auditoria clínica eficaz e participativa, gestão eficiente do risco de eventos adversos, educação e treinamento de profissionais, desenvolvimento e pesquisa clínica e transparência em todos os processos e relações interpessoais.
“É de extrema relevância também o desenvolvimento de lideranças e trabalho em times multidisciplinares, promovendo a comunicação efetiva e sincronizada entre as áreas que cuidam do paciente, como enfermagem, fisioterapia e nutrição. Além disso, é preciso garantir informações que tornem as escolhas do paciente e de seus familiares melhores e livres de conflitos de interesse. Antigamente, todos eram alijados do processo de tomada de decisão”.
Na avaliação de Dr. Sandro Scárdua, médico-hospitalista do HS e autor de artigo sobre o tema (disponível em http://saudeweb.com.br/blogs/governanca-clinica-conceitos-em-rapida-evolucao/), o conceito de Gestão do Corpo Clínico está fundamentado basicamente na premissa de que os serviços de saúde precisam incentivar os profissionais (principalmente o corpo clínico, ou seja, os médicos) a seguirem normas elementares de qualidade assistencial em benefício dos pacientes para os quais sua atividade-fim é voltada.
“Para tanto, são preconizadas atitudes de incentivo à regimentalização, criação de comissões, resgate e valorização do papel do auditor, adoção de diretrizes e protocolos clínicos, regras de relacionamento multi-profissional, valorização da percepção do paciente a respeito do seu tratamento e de sua experiência dentro da organização, e o registro adequado de todos os eventos relacionados à sua prática (documentos, prontuários, justificativas, dentre outros)”, salienta.
Governança clínica nas instituições hospitalares
Em artigo publicado na Revista Diagnóstico, os médicos Evandro Mesquita, diretor clínico do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e Denise Schout, assessora técnica da Associação Nacional de Hospitais Privados, consideram que a governança clínica precisa de um corpo assistencial bem estruturado e alinhado. “Com a disseminação dos programas de acreditação hospitalar nos hospitais brasileiros, a sua implementação tem sido acelerada. A liderança médica representa o principal condutor no processo de gerenciamento e operacionalização da governança clínica, pois são os grandes responsáveis pela mudança de cultura, por meio do exemplo e da supervisão”.
Conforme o texto, nos últimos três anos, a Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANS) tem trabalhado no desenvolvimento do Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviço de Saúde, baseado em indicadores assistenciais. “A iniciativa certamente tornará o sistema mais transparente e deve contribuir para a escolha dos usuários de planos de saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também tem contribuído com elaboração de diretrizes para orientar o funcionamento das instituições hospitalares, de forma a construir uma assistência mais segura. Essas iniciativas contribuem significativamente para a implantação da governança clínica nas instituições hospitalares”.
Na avaliação dos especialistas, a formação de profissionais de saúde capacitados para a gestão da assistência em conformidade com o modelo hospitalista contemporâneo é uma peça-chave para o desenvolvimento de um processo pleno de governança clínica. “Por essa razão, os programas de educação permanente e o contínuo desenvolvimento de lideranças são fundamentais. A fuga de talentos, algo bastante comum nos hospitais, tem proporcionado elevado turnover dos profissionais de saúde, o que representa um desafio para a consolidação de um modelo de governança clínica maduro nas instituições e deve ser vista como questão prioritária nos hospitais, especialmente entre os gestores e diretores”.