A organização em rede, de unidades de saúde no Distrito Sanitário do Subúrbio Ferroviário de Salvador, o desafio da busca pela acreditação do Hospital do Subúrbio (HS) em 2012 e a necessidade de revisão do contrato de metas (quantitativas e qualitativas) do HS foram os principais assuntos abordados durante a visita de representantes do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) – Banco Mundial à unidade hospitalar, no dia 15 de dezembro.
João Vicente Campos, especialista em gerenciamento financeiro do BIRD no Brasil, e Fernando Lavandez, especialista do Departamento de Saúde, Nutrição e População Latino América e Caribe, reuniram-se com o corpo diretor do HS para conhecerem a experiência do hospital na implantação do seu modelo de parceria público-privada (PPP), que inclui a gestão clínica como atividade do parceiro privado. O HS é a primeira PPP da saúde no Brasil.
Acompanhados de Ângelo Castro Lima, representante da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), João Vicente e Fernando Lavandez conversaram sobre aspectos do contrato de PPP firmado entre o HS e o Governo da Bahia e tomaram conhecimento sobre a estrutura física e modelo de assistência do hospital. “Consideramos um sucesso a PPP do Hospital do Subúrbio”, disse Ângelo Lima.
Ao contextualizar a presença do HS no Subúrbio Ferroviário, local que abrange aproximadamente 25% da população de Salvador, segundo dados de 2010 do IBGE, o gerente médico Jorge Motta salientou que se trata da primeira estrutura terciária de alta complexidade da região. E explicou que a fragilidade da Rede Básica de Saúde, marcada pela inconstância na assistência à população, traz para o HS grande número de pacientes que deveriam ser atendidos em unidades básicas e de atendimento ambulatorial.
Diante desse quadro, o médico e especialista do Banco Mundial, Fernando Lavandez, apontou a importância de uma rede complementar, capaz de atender os diferentes níveis de demanda dos usuários. Para ele, é difícil realizar o tratamento de pacientes quando não há uma rede que o ajude a controlar o seu quadro de saúde. Os pacientes saem do hospital tratados, mas não recebem apoio adequado nas unidades de saúde e acabam por retornar com seu estado agravado à unidade hospitalar de média e alta complexidade.
Mesmo entendimento têm a diretora médica do HS, Lícia Cavalcanti, e o gerente médico Jorge Motta, que consideram a gestão unificada como forma de evitar a superlotação de usuários no hospital, fora do seu perfil de atendimento, e garantir a qualidade na prestação dos serviços, bem como a promoção efetiva da saúde da população. Unidades básicas de saúde da família, de atendimento ambulatorial (eletivo e pronto atendimento) e de especialidades, uma unidade materno-infantil – o Hospital João Batista Caribé – e uma unidade terciária, representada pelo Hospital do Subúrbio, formariam a rede necessária para o Distrito Sanitário do Subúrbio Ferroviário.
Há 15 anos trabalhando com PPPs, Fernando Lavandez falou sobre suas experiências na Bolívia, El Salvador, Argentina e Peru, locais onde observou a presença de redes complementares e linhas de cuidado envolvendo temas específicos (a exemplo da linha de cuidado em hipertensão, na Argentina). Segundo Lavandez, “integrar a rede é um desafio possível de se fazer só após um diálogo político”. No caso de Salvador, a ação envolve acordos entre Estado e Município.
Ajustes
A definição de metas quantitativas e qualitativas estabelecidas em contrato, sem que houvesse sua adequação à realidade local e uma série histórica, foi alvo de questionamento pelo especialista Fernando Lavandez. Na avaliação da diretora médica do HS, os indicadores precisam ser revistos, em respeito aos dados epidemiológicos e ao equilíbrio financeiro do hospital. Na mesma linha de pensamento, Lavandez concordou que ajustes devem ser feitos pelo parceiro público.
O especialista do Banco Mundial também fez sugestões para tornar mais simples e eficaz a forma de avaliação da satisfação do usuário, que é medida através de opinários. As fases de implantação da unidade hospitalar, o perfil institucional e o modelo de classificação de risco no acolhimento, baseado em cores conforme dispõe o Protocolo de Manchester, também foram explicitados pelo gerente médico, Jorge Motta.