A análise apurada da atuação do Serviço de Psicologia na Emergência do Hospital do Subúrbio (HS), o desenvolvimento de práticas humanizadas no setor de Pediatria e a experiência com grupos informativos na sala de espera da UTI levaram quatro profissionais da equipe de Psicologia do HS a apresentarem painéis, em formato de pôsteres, no VIII Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, de 11 a 14 de agosto, em Curitiba (PR).
Os estudos, exibidos para os participantes do evento e avaliados por especialistas da área, contribuíram para a troca de conhecimentos, na busca por uma evolução contínua do trabalho realizado diariamente pelas psicólogas no ambiente hospitalar. Ainda, deram visibilidade ao compromisso das profissionais de desempenharem suas atividades de maneira cada vez melhor, desenvolvendo o hábito da pesquisa e da observação das estratégias adotadas diariamente, o que contribui para o aumento da qualidade dos serviços prestados pelo HS.
Psicóloga da UTI do HS, Alessandra Martins mostrou, em seu painel, a necessidade de dar maior atenção aos familiares que têm um ente internado em UTI. Ela observou que o desconhecimento e a falta de informação sobre a Unidade de Terapia Intensiva – vista como um local ameaçador associado à ideia de morte iminente – aumentam o nível de tensão e a angústia dos familiares. Por isso, defende a existência de um “grupo informativo de sala de espera”, voltado a visitantes e familiares de pacientes internados nessas unidades.
Alessandra Martins esclarece que o grupo, formado pela própria equipe de assistência, fornece informações sobre as normas e rotinas da UTI para desmistificar o aspecto negativo da unidade e minimizar a ansiedade dos visitantes. Dentre as orientações estão a importância da lavagem das mãos, quantidade permitida de visitantes, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) em casos de precaução ou isolamento de contato, boletim médico, e explicações sobre os aparelhos utilizados no tratamento do paciente, o que é permitido e proibido na unidade.
Com as informações, os familiares ficam mais tranqüilos para estarem com o paciente, estruturando-se emocionalmente e constituindo uma força afetiva que pode e deve ser envolvida no tratamento do paciente, como ressalta Alessandra em sua pesquisa.
Atividades na Pediatria
Com o tema “Estratégias de Humanização frente às crianças hospitalizadas”, o painel das psicólogas do HS Ticiana Lima e Carolina Kalid mostrou que a realização de atividades, por meio do “brincar”, combate os efeitos negativos gerados pela hospitalização, ajudando na recuperação da criança ao propiciar melhoras no seu estado emocional.
Segundo as autoras do estudo, as brincadeiras são capazes de reduzir a ansiedade e o entristecimento gerados pela situação de internamento, bem como fortalecem o vínculo entre a criança e a família. “O brincar é considerado uma estratégia de enfrentamento das experiências provenientes da hospitalização, de melhora da criança e de interação da equipe com os pacientes”, acrescenta Carolina Kalid.
Atividades lúdicas e educativas que fazem o resgate da cultura popular e que lembram datas comemorativas (Dia das Mães, da Páscoa, das Crianças, Natal), rodas de leitura, teatros de fantoche, oficinas artesanais com acompanhantes e criação de murais temáticos são algumas das ações desenvolvidas nas brinquedotecas das duas enfermarias pediátricas do HS. Pacientes com dificuldade de locomoção realizam as atividades no próprio leito. Tudo isso proporciona momentos de alegria e prazer, tornando as crianças internadas mais ativas, seguras e participativas frente à sua hospitalização, adaptando-se melhor ao tratamento.
Psicólogos na Emergência
Após avaliarem a inserção do psicólogo nas Emergências Adulto e Pediátrica do HS, através da identificação do perfil nosológico dos pacientes atendidos no hospital, as psicólogas Carolina Kalid e Lilia Schnitman verificaram que o perfil de atendimento psicológico prestado aos pacientes não condizia com os critérios de prioridade de atendimento estabelecidos inicialmente. “Queríamos analisar se os critérios criados para o atendimento estavam compatíveis com os critérios reais de pacientes que foram atendidos. Vimos que não”, disse Carolina Kalid.
Na hipótese inicial, o primeiro critério para atendimento psicológico seria as cirurgias mutiladoras ou de alto risco. Mas as especialistas em psicologia hospitalar perceberam que o perfil de atendimento psicológico é similar àquele de entrada dos pacientes na instituição, divergindo apenas quanto à predominância.
De acordo com a pesquisa, o Serviço de Psicologia atende, majoritariamente, pacientes com diagnóstico de doenças do aparelho circulatório (23,91%), seguidos de lesões, envenenamento e outras consequências de causas externas (17,22%), e doenças do aparelho respiratório (10,03%). Já os pacientes que dão entrada no hospital apresentam, em sua maioria, lesões, envenenamentos e outras consequências de causas externas, seguidos de problemas respiratórios.
Sobre a participação no evento, Carolina Kalid mostrou-se satisfeita. “Foi muito gratificante. Hoje, são poucos os hospitais que trabalham com psicólogos em Emergência. Os estudos ainda são escassos. No Hospital do Subúrbio, a psicologia hospitalar surgiu junto com a unidade. Estamos crescendo muito e ao mesmo tempo”, destacou.
Dentre os resultados da pesquisa, ficou o entendimento que, diante de pacientes com perfil nosológico tão variado, cabe ao psicólogo ser flexível e adaptar-se ao inesperado.